quarta-feira, 29 de março de 2017

Vivian Maier e Jean-Michel Basquiat - o encontro


Para Luzia Maninha,
com quem primeiro dividi Vivian Maier


A recente disponibilização do filme Procurando Vivian Maier na rede e o documentário Eu não sou seu negro, em cartaz nos cinemas de São Paulo, despertaram  em mim a vontade de compartilhar no blog uma loucura antiga - um desses jogos hipotéticos em que fantasiamos um encontro que ninguém pode afirmar não ter existido. Em minha imaginação, Vivian Maier e o jovem Jean-Michel Basquiat estiveram frente a frente, e não poucas vezes, pelas ruas de Nova York.

E como nesses jogos tudo é possível e os dados, ainda que aleatórios, encontram algum tipo de conexão, indicarei aqui provas básicas desse contato, deixando ao leitor e fã, todo um campo de possibilidades ainda por explorar.

Vivian Maier
Jean-Michel Basquiat

Premissas:

Vivian Maier nasceu em 1926 e faleceu em 2009 na cidade de Nova York, filha de imigrantes franceses e austríacos.












Jean-Michel Basquiat nasceu em
1960 e morreu em 1988 na 
cidade de Nova York, filho de
imigrantes haitianos e porto-riquenhos.



Vivian e Basquiat viveram na mesma cidade, circularam pelo centro e pelos arrabaldes e carregaram evidentes sentimentos de inadequação, no mínimo, entre 1964 e 1988, quando da morte do jovem e promissor artista.

Gosto de imaginar que passaram muitas vezes um pelo outro. Ela a fotografar e a pajear as crianças sob seus cuidados, ele, a princípio com sua mãe, depois a caminho da escola e, mais tarde, imprimindo sua marca nos muros e nas retinas.


Crianças em foto de Vivan Maier




O menino Jean-Michel




A mãe de Basquiat levava-o a passear nos museus da cidade. Ele tinha, inclusive, uma carteirinha de frequentador júnior do Brooklyn Museum. Quem disse que Vivian Maier não o viu por lá?


Foto: Vivan Maier
Carteirinha do Brooklyn Museum
com assinatura de Basquiat-menino no verso
(Foto: Adélia Nicolete)

Em seus longos passeios, não teria o olhar de Vivian Maier, sempre tão atento ao belo, cruzado com aquele rapaz em alguma calçada?



O jovem Basquiat
Jovem fotografado por Vivian Maier



O artista Basquiat

Rapaz fotografado por Vivian Maier

(Em que momento os registros começaram a se tornar permeáveis e a se confundir?)

Detalhe de uma obra de Jean-Michel Basquiat


Em 1978 estreava “O céu pode esperar”, uma refilmagem com Warren Beatty. Aos 14 anos, assisti no Studio Center, em Santo André. Vivian Maier, em Nova York, registrou o fato. E quem disse que Basquiat não fez o mesmo?

Autorretrato de Vivan Maier - 1978


Cartaz do filme à esquerda e obra de Basquiat à direita


Alguma parede grafitada ou pichada por Basquiat teria chamado a atenção de Vivian Maier ou ela preferia muros brancos?

Basquiat em ação




Vivian Maier em ação
Autorretrato


















Nova York entre 1978 e 1988, período de nosso recorte, abrigava um ambiente artístico fecundo. Vivian e Basquiat eram dois artistas genuínos a traçar caminhos paralelos, a olhar a cidade e seus habitantes, perfeitamente integrados com o seu tempo a ponto de imprimir em seus trabalhos a complexidade do contemporâneo.


Jean-Michel Basquiat - "Notary" - 1983

Autorretrato de Vivian Maier - 1971

Jean-Michel Basquiat






Foto: Vivian Maier




Autorretrato de Vivian Maier - sem data











Jean-Michel Basquiat
(Foto: Lee Jaffe)

Ah! Eu poderia lançar hipóteses até o infinito, pois acredito que esse encontro aconteceu. E se não aconteceu outrora, eu faço acontecer, aqui e agora, nesse blog, e a cada vez que  penso na dramaturgia contemporânea e suas transparências e sobreposições, suas narrativas e seus depoimentos pessoais, seu hibridismo, sua temática urbana, o cruzamento das imagens e das palavras, por vezes díspares... Mas aí já é um tema para outra reflexão e eu preciso concluir esse devaneio:

Fica decidido, pois, que Vivian Maier e Jean-Michel Basquiat se conheceram, se admiraram e vivem, depois de tantas penas, felizes para sempre porque no jogo que eu faço é assim.


Adélia Nicolete


Abaixo um site e alguns filmes epara que o jogo possa continuar.

Site oficial com os trabalhos de Vivian Maier


"Procurando Vivian Maier" - 2015, com legendas em português:



"Basquiat" - 1996 - sem legendas em português: 





"Jean-Michel Basquiat: the radiant child" - (2010) - documentário com legendas automáticas em português





Subo as escadas rolantes do MOMA
e me deparo com ele.
Nova York - 2015
(Arquivo pessoal)


4 comentários:

  1. E não é que você relatando também entrei na história, fico pensando - ela observando aquele total domínio das cores - ele, desconfiado, o que tanto ela apreende, para onde olha aquela mulher, o que faz ela com aquele "adereço" pendurado no pescoço, na tentativa de aproximação explodia-se em cores, sim eu sei, as vezes lhe faltou cores - ela ali do lado captando em PB, o seu “pequeno mundo” andava pendurado em seu caixote, ela registrava, se registrava, uma vida em película, e os rolos se multiplicando. Que bom que eles existiram e andaram lado a lado, linguagens...

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    1. O que tanto admira minha amiga fotógrafa? Por que compartilha comigo essas fotos de uma desconhecida? Mas as fotos são boas! São muito boas! Quem é essa mulher, Maninha? É Vivian Maier. Isa vai me mandar o doc que fizeram sobre ela e eu passo uma cópia pra você. E já comprei o livro com os autorretratos, quer ver? Ah! Essa amiga generosa a compartilhar tesouros. Gratidão sem tamanho!

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  2. Gostei tanto desse seu jogo, que adoraria que vc pensasse um ateliê de dramaturgia nos propondo essas intersecções. Quero mais devaneios

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